A centenária Feira de Todos-os-Santos de Silves é, tudo o indica, uma tradição moribunda. Outrora a mais importante feira algarvia, tem nos últimos anos perdido muito do seu vigor, do seu tipicismo. As causas são múltiplas: umas estruturais, outras bem mais conjecturais. Entre as de ordem estrutural podem enunciar-se as alterações nos hábitos de consumo, nos hábitos de lazer, na facilidade de acesso aos mesmos divertimentos durante todo o ano, até nos hábitos de poupança pessoal (bem me lembro de amealhar todo o ano para a feira e, quando esta chegava, esperar pelas "feiras" de pais e avós); entre as causas conjunturais estão as dificuldades criadas àqueles que das feiras e mercados ainda fazem forma de vida. É a concorrência das grandes superfícies ou dos parques temáticos de lazer, são os impostos e as taxas autárquicas, são os espaços que as autarquias (não) disponibilizam. Na Idade Média, os reis e os concelhos portugueses libertavam-nas de taxas e concediam especiais privilégios aos que as frequentassem (as chamadas feiras francas) na tentativa de fomentar o comércio e a dinamização económica das regiões mais deprimidas. Hoje, algumas autarquias (como é o caso da de Silves) asfixiam-nas com taxas e obrigações que os feirantes não podem comportar, deslocam-nas para lugares com duvidosas condições. Há meses que não se faz o mercado mensal em Silves. Talvez para o ano só haja mesmo a Feira de S. Martinho, em Portimão, este ano com abertura antecipada dada a situação que em Silves foi criada. Passará então a realizar-se no dia 2 de Novembro, Dia dos Fiéis Defuntos!!
P.S.-Sobre a feira leia-se também o que já escrevi em... http://sacodosdesabafos.blogspot.com/2005/10/feira-de-silves.html
1 comentário:
Nasci em Silves e lá vivi até ir para a guerra de Angola.Este ano fui com a família à Feira anual de Silves e fiquei cheio de vergonha com o que vi.Uma feira paredes meias com o cemitério,a falta de qualidade do espaço,falta de higiene pois eram só moscas nos alimentos à venda etc.Que belos tempos a da antiga feira de Silves,havia caixotes de maçãs,batata doce cozida e uma enorme quantidade de divertimentos.Aquela coisa triste de agora a imitar uma feira onde se vendiam os frutos secos mais caros que no Hipermercado. Outro local a esquecer é o sítio de Odelouca; aí há um cheiro que é inadmissível para uma aldeia quanto mais para uma zona de turismo internacional.Fico triste ao ver a minha terra tão mal estimada. Sou do tempo das perseguições da Pide e Silves era nessa altura uma cidade lutadora,era,já não parece ser.Quando o general Humberto Delgado visitou a cidade eu e muitos outros alunos da Escola Industrial e Comercial faltámos e fomos esperar o candidato.Depois de tirar o curso industrial fui para as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico para me safar da guerra colonial mas passados uns tempos correram comigo porque fiquei nas fotos da visita do general a Silves e o resultado foi ser obrigado a ir para Angola.Tenho hoje fotocópias da Torre do Tombo com afirmações anedóticas a meu respeito, como por exemplo:Encontrámos escrito na casa de banho do Mercado Municipal de Silves a seguinte frase:«Viva Humberto Delgado,pela letra presumimos que seja dele.»
Quando penso nestes tempos aparece-me sempre uma lágrima no canto do olho.
Um abraço amigo de Manuel Palma
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