segunda-feira, setembro 22, 2008

Ela merece(ía)...não fosse tudo já passado

P.S.(Nota prévia) - Este foi o post que fiz em 22 deste mês. Cá fica, mas com este pré-aviso. Foi tudo um imenso equívoco espalhado à velocidade da luz, aquela em que funciona a Internet. Tudo se passou, ainda assim, mas passaram já alguns anos. Leiam a explicação completa aqui. E aceitem as minhas desculpas, pela desinformação em que participei.
Sobre Maria Keil, a silvense, uma das maiores artistas do séc. XX português, que revitalizou a nossa tradição no azulejo, já antes escrevi, aqui e aqui.
O post de hoje, ainda que atrasado, serve para denunciar um dos maiores atentados ao património perpetrados nos últimos tempos, por uma empresa portuguesa, que até é pública, e um dos maiores atentados também à dignidade humana e artística, que mais me repugna por ter Maria Keil como vítima. Logo ela, um exemplo em muitos aspectos. Outro fosse, um daqueles que hoje fazem as vernissages da moda, e as indemnizações jorrariam aos milhões.


Mas passo a palavra aos autores da petição on-line que reclama a reposição dos painéis destruídos pelo Metropolitano de Lisboa (constantes dos livros de história da arte por onde estudei e não só), e que não indemnizou a autora simplesmente por esta os não ter vendido, mas sim oferecido. Truques de advogado, mas que ainda assim não respondem a outra questão: e quem indemniza os portugueses pela destruição daquele património colectivo?


Leiam o texto da Petição, e se assim entenderem, assinem aqui (em dois dias os números ultrapassaram já o primeiro milhar!, embora ainda hajam relativamente poucos silvenses):


Para: Metropolitano de Lisboa
Maria Keil (gosta que a tratem apenas por Maria) nasceu na cidade de Silves, em 1914. Partilhou a maior parte da sua vida com o arquitecto Francisco Keil do Amaral, com quem se casou, muito jovem, em 1933. De lá para cá fez milhares de coisas, sobretudo ilustrações, que se podem encontrar em revistas como a “Seara Nova”, livros para adultos e “toneladas” de livros infantis, os de Matilde Rosa Araújo, por exemplo, são em grande quantidade. Está quase a chegar aos 100 anos de idade de uma vida cheia, que nos primeiros tempos teve alguns “sobressaltos”, umas proibições de quadros aqui, uma prisão pela PIDE, ali... as coisas normais para um certo “tipo de pessoas” no tempo do fascismo. Para esta “história”, no entanto, o que interessa são os seus azulejos. São aos milhares, em painéis monumentais, espalhados por variadíssimos locais. Uma das maiores contribuições de Maria Keil para a azulejaria lisboeta, foi exactamente para o Metropolitano de Lisboa. Para fugir ao figurativo, que não era o desejado pelos arquitectos do Metro, a Maria Keil partiu para o apuramento das formas geométricas que conseguiram, pelo uso da cor e génio da artista, quebrar a monotonia cinzenta das galerias de cimento armado das primeiras 19, sim, dezanove estações de Metropolitano. Como o marido estava ligado aos trabalhos de arquitectura das estações e conhecendo a fatal “falta de verba” que se fazia sentir, o Metro lá teve de pagar os azulejos, em grande parte fabricados na famosa fábrica de cerâmica “Viúva Lamego”, mas o trabalho insano da criação e pintura dos painéis... ficou de borla. Exactamente! Maria Keil decidiu oferecer o seu enorme trabalho à cidade de Lisboa e ao seu “jovem” Metropolitano. Finalmente, a história! Recentemente a Metro de Lisboa decidiu remodelar, modernizar, ampliar, etc, várias das estações mais antigas e não foram de modas. Avançaram para as paredes e sem dizer água vai, picaram-nas sem se darem ao trabalho de (antes) retirar os painéis de azulejos, ou ao incómodo de dar uma palavra que fosse à autora dos ditos. A parte “realmente boa” desta (já longa) história é que, ao contrário de quase todos os arquitectos, engenheiros, escultores, pintores e quem quer que seja que veja uma sua obra pública alterada ou destruída sem o seu consentimento, Maria Keil não tem direito a qualquer indemnização. Pergunta-se “porquê? Porque na Metro de Lisboa há juristas muito bons, que descobriram não ser obrigatório pedir nada, nem indemnizar a autora, de forma nenhuma... exactamente porque ela não cobrou um tostão que fosse pela sua obra!!! Este crime silencioso não pode continuar impune. Pior do que o crime em si será o (nosso) silêncio à sua volta. Como tal os abaixo assinados exortam o Conselho de Gerência do Metropolitano de Lisboa a, rapidamente, deligenciar obter os desenhos dos painéis destruídos e mandar executar, à empresa que produziu (a Viúva Lamego) novos painéis. Com todo o respeito, os abaixo assinados.
P.S.- Voltei a revisitar este sítio com uma conversa com MK e... emocionei-me (liguem o som).

terça-feira, setembro 16, 2008

Vade retrum

créditos para fototungazunca.blogspot.com/


Vade retrum foi a exclamação que me saiu de chofre face à analogia da Presidente da Câmara Municipal de Silves do projecto de "Requalificação da frente de mar de Armação de Pêra" a um "pequeno Polis". Fiquei preocupado por ela, já que os 9 meses previstos, com timing perfeito para as eleições autárquicas, estariam comprometidos tratando-se de um Polis, ainda que sendo um pequeno Polis. E depois pela "malvada" arqueologia que ali é expectável, de atuns e sardinhas feita, quiçá de caboucos de almadrava, não fosse Armação terra de grandes "armações"! Mas o que mais me surpreendeu foi a nossa presidente vir dizer que aquilo que é afinal uma simples pedonalização de ruas, com uma única demolição (a do quiosque do mini-golfe, já que ninguém queria ver o hotel Garbe, o chalet Vasconcelos, a Fortaleza e outras velhas construções desaparecerem), permitir «abrir a vista da cidade (sic?) para o mar», proporcionar «uma visão mais limpa» da orla costeira aos residentes e visitantes, ao «esbater os obstáculos visuais»! É obra, com a simples demolição do quiosque!

Citando ainda a autarca, no mesmo jornal, «Não podemos deitar prédios abaixo, por isso temos de chamar a atenção para o que está abaixo deles». E o que está abaixo deles é uma política urbanística selvagem, mercantilista, que adiou soluções, e ainda hoje troca áreas de concessão ao domínio público por alguns euros, deixando que sejam os privados a ditar as regras, privando os demais de espaços públicos de qualidade, designadamente jardins ou parques infantis. Para a autarquia, e para o governo central, afinal o maior investidor, restam as operações de mera cosmética, que nada alteram a situação de fundo. Prova cabal disso é a situação do casino, excluída deste plano!