domingo, setembro 18, 2005

Via Sacra de um munícipe


Reproduzo hoje aqui uma história verídica ocorrida na C.M.Silves, há bem pouco tempo, e que diz bem da consideração autárquica pelos interesses dos seus munícipes e do respeito pelos seus direitos mais legítimos: ser bem servido e, quando tal não acontece, poder reclamar. Não menciono nem datas nem nomes, respeitando o anonimato do protagonista que, pessoalmente, me contou a história. Contá-la-ei, por ser assim mais viva, em discurso às vezes directo, assistido por narrador/protagonista.
"Fazia um mês que me dirigira à C.M.S. para pagar os cerca de 150 € pelo ramal de ligação da água à minha casa. Só agora me colocavam o contador. Enfim, podia ter água canalizada. Ligado o esquentador, ligadas as torneiras, em vão esperei pela bendita água quente. Verificada a pressão, constatei que não chegava a 1 quilo, quando o normal ronda os 4 quilos. Lá teria que me contentar em voltar a aquecer a água que comprara aos B.V.Silves alguns dias antes. No dia seguinte dirigi-me aos serviços técnicos da câmara. O funcionário foi esclarecedor, no lacónico comentário:
- Pois é, parece que isso acontece com outros consumidores - retorquiu, enquanto outro assunto já lhe ocupava toda a sua atenção.
Percebendo que com ele não adiantaria muito mais, pedi para falar com o chefe dos serviços que, surgindo malcriado e arrogante, disse: - Reclame por escrito! Quando lhe pedi o Livro de Reclamações fiquei a saber que não tinha. Tentei ainda nos serviços sitos na Rua da Sé, mas também em vão. Reforçava-se a minha indignação nesta luta de paciência atrás do dito livro, enquanto me dirigia para a casa-mãe, o edifício da Câmara. Ali, segundo alguns, repousava o dito livro ciosamente guardado por uma senhora que não digo agora o nome (não, não era a presidente da autarquia, seus maldosos). De caminho, resfolegando debaixo da inclemência do sol, quase resignado ao banho com água de panela que ao fim da tarde me esperava, cruzei-me com importante autarca municipal, meu conhecido, a quem desvelei o meu rosário. Esperando o fim dos meus calvários, quase desfaleci perante a crueza da resposta:
- A solução é pedir a anulação do contrato de fornecimento de água, mesmo que isso lhe vá custar perder o que já pagou pelo ramal e contrato. (os tais 150€, lembram-se?)
Não quis acreditar no que ouvia da voz de um tão importante responsável municipal. Só caí em mim quando a água fria dos bombeiros já me escorria na pele ressequida pela Via Sacra desse dia.
P.S.- Acrescente-se, a título complementar, e contrariamente ao que estipula a lei, que o Livro de Reclamações (o chamado Livro amarelo, cor da vergonha), não tinha nem as páginas numeradas nem forma de duplicar (folha química) o que lá foi escrito, para tal tendo sido necessário recorrer a uma fotocopiadora. Modernices !!

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