domingo, agosto 28, 2005

E se Silves fosse Lisboa...


Acabadinho de chegar a Silves, depois de umas retemperadoras férias outdoors, quase totalmente alheio às novidades locais e nacionais, vinha esfomeado por notícias. Jornais televisivos e outros nacionais, imprensa local ou regional, tudo devorei. Em termos nacionais a coisa andava pelo mesmo: os trágicos incêndios. O país estava a fogo, só falta estar a ferro, conforme o dito popular. Novidades, novidades (aqui exagero), só no que diz respeito ao meu concelho, a Silves. "E se Silves fosse Lisboa- pensei..., a escandaleira que para aí ía!" Vejam só: em 15 dias ficámos a saber que uma estação arqueológica romana classificada desde 1997, em Vila Fria, tinha sido puramente arrasada e as lagoas decorativas que integram o futuro campo de golfe cheias com água retirada aos sacrifícios pedidos a todos nós. Os infractores, a Câmara Municipal e o empreendimento, alegam desconhecimento. Imaginem ao que chegámos! Sitío classificado como "imóvel de interesse concelhio", para cujo início de obras o Instituto Português de Arqueologia pediu explicações à Câmara ainda em 18 de Abril!(o que é querem, quando estas coisas acontecem, e começam a não ser raras, sempre me lembro das entusiásticas como ridículas declarações da nossa presidente Isabel Soares prometendo fazer desta cidade "Património Mundial" e "Capital Cultural").
E a água que já não chega a muitos dos pomares da nossa famosa laranja mas vai servindo para estas lagoas artificiais, primeiro em Vila Fria, mas já vem aí também a Lameira. Mas há mais...
Messines, terra que nos últimos tempos muito sofreu às mãos do executivo camarário PSD, foi mais uma vez humilhada; essa é a palavra para o que ali vai sucedendo. Não bastavam as autoritárias e disparatadas alterações ao trânsito local, a mais que discutível obra da Avenida João de Deus, a destruição da carismática Casa Contreiras, faltava agora a C.M.S. vir colocar quatro painéis publicitários pagos com o dinheiro de todos nós para anunciar obras que não foi capaz de realizar durante os passados oito anos e para as quais não tem (das duas uma - e no caso do largo das Feiras das duas são mesmo duas), nem projecto aprovado nem verba suficiente orçamentada. Veja-se este caso (fonte: Orçamento Municipal para 2005): Largo das Feiras= 5 mil euros (será o valor do design e colocação deste outdoor?- não andará longe). Veja-se o caso da Escola Primária cujo terreno em que se propõe a sua realização ainda é privado. São, honestamente, obras para concluir nestes dois meses que falta para o fim de um mandato?! É eticamente responsável quem usa os meios camarários, a todos pertencentes, em seu próprio benefício?! Ah, se isto fosse Lisboa, Felgueiras, Marco de Canaveses, sei lá!.... Mas há mais...
E o Depósito de Combustíveis em Campilhos (Messines) em cima de um bairro residencial?Questionada em reunião camarária de 3 de Agosto a Srª Presidente nada sabia, apesar da carta de protesto enviada pelos moradores em 11 de Julho! Estes Correios!!
Mas há ainda mais, muito mais, embora isso fique para outra ocasião....
Ah! se isto fosse Lisboa

sábado, agosto 27, 2005

Em jeito de editorial...

Desde cedo acompanho o fenómeno da explosão dos blogs em Portugal. Sou assíduo leitor de alguns deles. Constituem um espaço de livre expressão sem precedentes e cujas consequências político-culturais estão longe de ser avaliadas ou compreendidas. Nunca, até aos dias de hoje, alguém teve a capacidade de transmitir e partilhar o que sente e pensa com tantos outros indivíduos, denunciando situações, influenciando opiniões, enfim, produzindo ou contribuindo para produzir o que é vulgar chamar opinião pública. Embora goste de partilhar o que penso, sou preguiçoso quando escrevo. Por isso este tardio blog. Mas circunstâncias de ordem pessoal, concretamente o facto de finalmente ter decidido empenhar-me na vida política activa (porque passiva era um vício de todos os dias), no caso as eleições autárquicas, levam-me a esconjurar um dos meus piores defeitos, já referido, o de poucas vezes comunicar por escrito o que penso.
A política começa em casa, e porque gosto de falar do que realmente sei, limitar-me-ei, na medida do possível e da minha indignação, a escrever sobre a terra onde vivo e trabalho, o concelho de Silves (Algarve).
Saco dos Desabafos foi o nome que resolvi dar a este espaço. É sempre complicado nomear algo, sobretudo quando o que nos impele pode ser adjectivado de tantas formas: indignação, raiva, descrédito, tristeza, pasmo, repúdio, enfim, emoções pouco desejadas embora possam ser construtivas. Mas nem sempre será assim, não queremos fazer deste blog um Saco de Lamentações. Também nos motivará a vontade de aplaudir, sem preconceito, sempre que a ocasião se proporcionar. Mas essas serão, certamente, ocasiões mais raras. Porque, como diz o poeta, que me perdõe a abusiva paráfrase, assim como o sonho comanda a vida, é a crítica negativa que está na raiz, comanda e inspira este "Saco dos Desabafos". É a minha terapia, mas também a minha contribuição ao debate municipal. É, afinal, a partilha com os conterrâneos do que me vai na alma, do que penso, na esperança de inspirar o debate, a discussão, da qual se poderá fazer, esperemos, alguma luz. Estou consciente da utopia de algumas destas presunções, mas que seria de todos nós sem a Utopia. Por ela, por nós, por Silves, peço aos que me lerem, desabafem comigo para este meu e vosso grande Saco dos Desabafos!