domingo, fevereiro 17, 2008

Maldição do Bispo?

Foto dos anos 30 (séc. XX)
Não, não acredito em maldições, mas parafraseando o conhecido dito..."lá que as há,.. há!" A antiga Sé de Silves, um dos mais importantes edifícios góticos do sul de Portugal, tem estado "amaldiçoada", desde o primeiro momento.

Iniciada a sua construção (após importante querela sobre a sua dependência) nos finais do séc. XIII, inícios do seguinte, foi logo em plena obra vítima de dois grandes terramotos que atrasaram a sua conclusão. De tal modo que em meados do séc. XV, em 1458, dizia o bispo D. Álvaro "que auja muj grandes tenpos que a see da djta cidade cayra e que nunca majs fora Redefjcada nem havia hy outra jgreja em que se celebrasem os deujnos ofycyos estava por terminar"(onde é que eu já li isto recentemente?). Pedidos ao rei (não, não era José Sócrates naqueles tempos), viagens de captura de escravos patrocinadas pelo bispo D. Rodrigo Dias do Rego, petições (não, não era o Padre Carlos Aquino), lá foram fazendo chegar algum do dinheiro necessário à sua recuperação, de modo que em 1473 os representantes de Silves às Cortes de Coimbra se congratulam com o fim das obras da ponte e da catedral. A morte em Alvor de D. João II e o seu enterro na capela-mor da igreja, fizeram com que D. Manuel I abrisse os cordões à bolsa e patrocinasse mais alguns melhoramentos. Mas a transferência do bispado em 1577 para Faro relegou o templo de novo para o esquecimento. Será outra vez a destruição provocada pelo Terramoto de 1755 que obrigará o bispo D. Francisco Gomes de Avelar a efectuar importantes obras, hoje visíveis na torre sineira da fachada, na Porta do Sol e outros pormenores do interior. Em 1922, o templo é classificado como Monumento Nacional. No início dos anos 40 do século XX, mais uma vez a velha catedral é intervencionada, desta feita, pela Direcção-Geral dos Edífícios e Monumentos Nacionais que, embora criminosamente sacrificando o belíssimo altar-mor barroco e o órgão, lhe devolve um razoável estado de conservação e um espírito mais próximo à sua simplicidade gótica original.

E chegados ao século XXI o que temos? Um edifício cuja cobertura está em iminente perigo de desabar, vai para dois anos, arrastando, caso isso aconteça, provavelmente consigo outros elementos arquitectónicos importantes, um espaço religioso e cultural praticamente vedado à presença de público, impedido de cumprir a sua vocação, apesar de Monumento Nacional, o mais alto grau de protecção legal instituído pela nossa Lei(?) do Património.

Que podemos esperar de um Estado que assim defende os seus mais importantes monumentos? Se com estes é assim, como estará a política cultural de salvaguarda de outros, relativamente, bem menos importantes? Para que servem as classificações patrimoniais, com os impedimentos legais que acarretam aos proprietários (neste caso a Igreja), se depois se dificultam as intervenções que estes queiram patrocinar?

Será preciso, apesar da parafernália legal existente, que um pároco e uma comunidade se desdobrem em iniciativas públicas e mediáticas para desbloquear um processo que as autoridades tutelares deveriam, em primeiro momento, tomar a seu cargo?

Será preciso?
P.S.- Não podem é dizer que ignoram. Por isso, utilizem os endereços de e-mail abaixo referenciados e façam saber da vossa indignação.
Dr. Elísio Summavielle (Igespar) - igespar@igespar.pt
Dr. José António Pinto Ribeiro (Ministro da Cultura) - gmc@mc.gov.pt
Dra. Paula Fernandes dos Santos (Secretária de Estado da Cultura) - gsec@mc.gov.pt
----
Ligações:
- Um artigo com o mesmo título e conteúdo semelhante no jornal Barlavento.
- Página do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (coloquem no último campo este nº de IPA PT050813070003 ) com importantes dados sobre a história e as sucessivas intervenções no templo, até as mais modernas.
- Página do ex-IPPAR.
- Fotos da Igreja, na Wikimedia.
- Página Wikipedia.

1 comentário:

Anónimo disse...

Por este pormenor se vislumbra o estado de marasmo em que se encontra a consciência bairrista da comunidade silvense. Será que o assunto é de natureza política? Já não importa que a Sé um destes dias seja também transferida para Faro? Que o SFC reinvente o Festival da Cerveja no monte do Falacho? Que a cidade seja tomada de assalto pelos bárbaros que a infestam?