sábado, abril 26, 2008

Habemos Bibliotheca

Apetece exclamar, conforme o título em epígrafe, já que esta é obra de dois mandatos autárquicos. Mas enfim, e como alguém já disse, para o caso isso agora não interessa nada. Cumpre pois, e apesar de tudo, deixar aqui os parabéns a quem de direito: Isabel Soares, Rogério Pinto, Rosário Pontes, Maria José Toucinho e restante equipa da Biblioteca, enfim, todos aqueles que, de um modo ou de outro, participaram. E à arquitecta, Margarida Simões Gomes, com quem trabalhei aquando do Museu da Cortiça.

Temos pois Biblioteca Municipal, equipamento que era uma das principais prioridades da cidade, considerada a exiguidade e falta de condições do espaço anterior e o encerramento da Biblioteca Gulbenkian. Temos edifício e condições técnicas, mas haverá agora que garantir o apoio para um trabalho sério e conforme uma moderna biblioteca.
Falta dizer como é este novo espaço e, para isso, cito o blogue da Biblioteca Garcia Domingues, na EB 2,3 do mesmo nome:
"Edifício moderno e bem iluminado, alberga nas suas três salas de leitura (Sala Maria Keil, Sala Lobo Antunes e Sala Garcia Domingues) cerca de 40 000 documentos, entre livros, jornais, revistas, CD e DVD.
Este novo edíficio, que contou com o apoio técnico e financeiro do Ministério da Cultura através da Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas, possui ainda um bar/esplanada, um pequeno espaço infantil, um auditório e uma zona técnica de acesso reservado.
Um aspecto interessante é o facto de conservar no seu interior, num piso subterrâneo, importantes vestígios da muralha mourisca do Arrabalde que serão musealizados.
Vai estar aberta todos os dias, excepto às segundas e sábados de manhã, até às 19.30 h!
Aproveitemo-la!
Viva a nova Biblioteca! "

6 comentários:

Anónimo disse...

Sinto-me satisfeita por ter sido a primeira a chegar aqui e poder deixar o meu comentário. Realmente, e embora com atraso, a César o que lhe pertence: a nossa Biblioteca está lindíssima, é um óptimo espaço, que muito apreciei, mais à linda festa que a inaugurou. Foi uma bebedeira de azul e poesia, de que há muito os silvenses necessitavam. Assim eles agora saibam aproveitar o equipamento de que agora dispomos, porque ele não foi só festa: vai continuar aberto ao público, para leitura, lazer, apreciação da linda panorâmica de que se pode desfrutar para a Praça Al-Muthamid, ou simplesmente tomar uma bica.
Informo a quem ainda não saiba que pode fazer a sua inscrição na Biblioteca, como eu já fiz, recordando os velhos tempos em que ia à Biblioteca Gulbenkian, primeiro a móvel, depois a fixa, requisitar todos os livros que não podia comprar.
Dispomos de um espaço novo que há que saber aproveitar, usufruir, porque ele é nosso, ao Povo pertence! E que os eventos continuem!!!
Os meus agradecimentos a todos os que contribuiram para esta nossa velha ambição!!!

Maria Lúcia

Anónimo disse...

Também eu me congratulo com a abertura deste novo espaço. Bonito, muito agradável e um recurso que tardava.
Relativamente aos agradecimentos que endereça (e gostei especialmente do "apesar de tudo") resta-me acrescentar à sua lista nominal o trabalho da Drª Maria José Gonçalves que garantiu todo o trabalho referente aos levantamentos arqueológicos e cujo contributo deve ser referido.
Boas leituras!

Anónimo disse...

Está muito bem sim senhor e fica-lhe bem, sr. vereador, dar os parabéns a quem merece.
Só um reparo sobre o texto que transcreve, a muralha não é mourisca, é islâmica. Por mouros são designados aqueles que aqui permaneceram após a conquista cristã... tanto quanto vi na exposição temporária patente na cave da biblioteca, a muralha data do séc.XI. Sugiro-lhe uma visita à referida exposição, que certamente lhe passou despercebida.
Um abraço!

Cristina

Manuel Ramos disse...

É verdade, é justo nomear também quem foi responsável pelos trabalhos arqueológicos,no caso a Drª Maria José. E aproveito para dizer, já em resposta ao segundo anónimo, pessoa de certezas, que visitei a exposição e até com visita guiada pela Drª Maria José. A muralha não me parece que seja do séc. XI, sim do XII, e a exposição surpreendeu-me sobretudo pela qualidade e alguma raridade das peças expostas. Quanto aos painéis, e a Drª Maria José presenciou essa descoberta, tinham algumas gralhas. Quanto a dizer que não é mourisca, está errada cara leitora. É uma designação tão ou mais apropriada que islâmica, já que muralhas não têm religião, e Silves era uma cidade multireligiosa na altura,. Mouros seriam talvez a maioria da população, os construtores, de origem norte-africana (Mouros, Mauritânia), já que se estava no período almóada, e esses (os almóadas)são originários da região a sul de Marraquexe. Mouros é a designação que melhor se adequa a toda essa gente que do norte de África chegou pois muitos provavelmente nem o árabe falavam, só berbere. Quanto à designação de "mouriscos", é exactamente ao contrário do que pensa. O termo mourisco foi muito usado após a reconquista, para toda a população que aqui ficara e habitava mourarias (aprox. 40% da população do termo de Silves no séc. XV). É quase um contrário de "moçárabe", isto é, aquele que vivendo entre mouros se arabizara, o que não quer dizer que se islamizara!
E termino,sublinhando: mouro é para mim o termo ainda mais apropriado, comparativamente a árabe ou islâmico, e face às incertezas antropológicas que ainda temos quanto à constituição da população local.

Anónimo disse...

Caro Manuel, caros anónimos

Embora tenha opinião sobre o assunto não me vou intrometer na discussão mourisca/islâmica, por me parecer o local pouco apropriado para explanar o meu ponto de vista, que vale o que vale.

Relativamente à cronologia da muralha, queria informar que os materiais arqueológicos encontrados nos contextos que correspondiam ao enchimento da vala de fundação da muralha e torre quadrangular eram cerâmicas com cronologias centradas em torno ao século XI. O confronto desta evidência com o conhecimento, através das fontes históricas, de que a cidade inicia uma fase de crescimento no final do século X (quando para aqui é transferida a capital da Kura de Ocsonoba), justificam que se construa fora da muralha da almedina levando à necessidade de proteger os habitantes do arrabalde recém formado. Também no século XI, Silves torna-se independente, tendo sido governada por 3 elementos da família Muzayn que, segundo a "crónica anónima dos reinos de taifa", ergueram muralhas na cidade e consolidaram outras existentes.

O capeamento que surge em torno à torre quadrangular, a antemuralha ou barbacã e o fosso inundado, é que são elementos defensivos, acrescentados ao local em período almóada (séc.XII). Estes elementos estão bem datados pelas cerâmicas a eles associados, tal como pelas afinidades que têm com outros elementos defensivos, tipologicamente semelhantes, encontrados noutras cidades islâmicas.

Os painéis mostram as várias fases de ocupação do sítio arqueológico, onde os textos (com 2 gralhas e um disparate detectados, este último rectificado de imediato), são ilustrados com imagens reais das estruturas arqueológicas e reconstituições tridimensionais hipotéticas, para melhor compreensão da fisionomia do edificado e da dinâmica de ocupação do local ao longo de vários séculos.

Já agora, só mais uma achega relativamente ao credo religioso dos habitantes da cidade em época islâmica. As fontes históricas relevam a origem árabe da maioria dos habitantes, a pureza da língua árabe que falavam, etc. As evidências arqueológicas corroboram, de algum modo, esta informação. Há dois sítios arqueológicos com estudos da fauna mamalógica (mamíferos)efectuados - a alcáçova e a parte do arrabalde a que nos temos vindo a referir. Em ambos os locais não se detectou um único osso de porco, o que confirma a não integração deste animal na dieta e a afectação destas populações à religião islâmica. No que concerne aos estudos antropológicos, e já dispomos de grande quantidade de dados, uma vez que nas duas necrópoles localizadas na cidade se resgataram mais de 100 enterramentos, todos se encontravam depostos com orientação segundo os canones muçulmanos. Parece-me, portanto, de admitir, que a população da Xilb fosse esmagadoramente muçulmana (com origens étnicas muito diversificadas mas muçulmana).

Esperando ter contribuido para esclarecer as dúvidas colocadas, resta-me agradecer o enfoque dado à minha pessoa, que entendo como extensivo a todos quantos comigo colaboraram nos trabalhos de campo, bem como, e sobretudo, aqueles que em gabinete trataram, reconstituiram e restauraram os materiais arqueológicos que apresentamos na exposição e que corresponderão, no tocante a cerâmicas, apenas a cerca de 10% dos fragmentos cerâmicos exumados.


Saudações arqueológicas

Maria José Gonçalves

Manuel Ramos disse...

Obrigado cara Maria José, pelo teu esclarecedor texto. Tenho uns comentários, só um nadinha discordantes a fazer, mas não os faço hoje. Depois esclareço melhor. E aqui mesmo, entre estes comentários. Também é isso este blogue: um espaço de debate. Mas agora não me apetece!...É tarde e daqui a pouco estou de partida para o congresso sobre al-Idrissi em Vila Real.
Obrigado.