É o aviso, preocupante, que nos deixa aqui Alex Jones.
Se têm dúvidas, reparem só quem continua, apesar da "dita crise", a apresentar milhões de lucros (nesta fase incompreensivelmente crescentes) ano após ano...
Sou professor, e nada mais reconfortante do que alguém que o não é vir dizer aquilo que realmente nos vai na alma. É dar voz ao que nós próprios não somos capazes de exteriorizar, exorcizar (nem que seja para rimar!), é dar testemunho insuspeito de que não é paranóia corporativa ou pessoal.
Manuel A. Pina fá-lo frequentemente, no que me diz respeito. De forma concisa, informada, irónica, sempre certeira, e fico-me por aqui nos adjectivos.
Por isso, aqui fica mais um desabafo pela voz de outro, escrito em 2010, mas que bem poderia ser de 2011, já sem a carrancuda Maria de Lurdes, substituída entretanto pela sorridente Isabel Alçada:
"A Grande Evasão", Por Outras Palavras, 2010
Quem pode, foge. Muitos sujeitam-se a perder 40% do vencimento. Fogem para a liberdade. Deixam para trás a loucura e o inferno em que se transformaram as escolas. Em algumas escolas, os conselhos executivos ficaram reduzidos a uma pessoa. Há escolas em que se reformaram antecipadamente o PCE e o vice-presidente. Outras em que já não há docentes para leccionar nos CEFs. Nos grupos de recrutamento de Educação Tecnológica, a debandada tem sido geral, havendo já enormes dificuldades em conseguir substitutos nas cíclicas. O mesmo acontece com o grupo de recrutamento de Contabilidade e Economia. Há centenas de professores de Contabilidade e de Economia que optaram por reformas antecipadas, com penalizações de 40% porque preferem ir trabalhar como profissionais liberais ou em empresas de consultadoria. Só não sai quem não pode. Ou porque não consegue suportar os cortes no vencimento ou porque não tem a idade mínima exigida. Conheço pessoalmente dois professores do ensino secundário, com doutoramento, que optaram pela reforma antecipada com penalizações de 30% e 35%. Um deles, com 53 anos de idade e 33 anos de serviço, no 10º escalão, saiu com uma reforma de 1500 euros. O outro, com 58 anos de idade e 35 anos de serviço saiu com 1900 euros. E por que razão saíram? Não aguentam mais a humilhação de serem avaliados por colegas mais novos e com menos habilitações académicas. Não aguentam a quantidade de papelada, reuniões e burocracia. Não conseguem dispor de tempo para ensinar. Fogem porque não aceitam o novo paradigma de escola e professor e não aceitam ser prestadores de cuidados sociais e funcionários administrativos.
'Se não ficasse na história da educação em Portugal como autora do lamentável 'pastiche' de Woody Allen 'Para acabar de vez com o ensino', a actual ministra teria lugar garantido aí e no Guinness por ter causado a maior debandada de que há memória de professores das escolas portuguesas. Segundo o JN de ontem, centenas de professores estão a pedir todos os meses a passagem à reforma, mesmo com enormes penalizações salariais, e esse número tem vindo a mais que duplicar de ano para ano.
Os professores falam de 'desmotivação', de 'frustração', de 'saturação', de 'desconsideração cada vez maior relativamente à profissão', de 'se sentirem a mais' em escolas de cujo léxico desapareceram, como do próprio Estatuto da Carreira Docente, palavras como ensinar e aprender. Algo, convenhamos, um pouco diferente da 'escola de sucesso', do 'passa agora de ano e paga depois', dos milagres estatísticos e dos passarinhos a chilrear sobre que discorrem a ministra e os secretários de Estado sr. Feliz e sr. Contente. Que futuro é possível esperar de uma escola (e de um país) onde os professores se sentem a mais?
Foi exactamente há trinta e cinco anos anos que muitos (eu incluído, só na manif. de 78) marcharam rumo a Ferrel, concelho de Peniche, em apoio da sua população, ameaçada pela intenção de ali se instalar uma central nuclear. Em boa hora esse protesto vitorioso se fez, pois foi o primeiro passo para impedir que Portugal se juntasse ao grupo de risco dos países que utilizam essa perigosa energia.
A dita "energia segura", barata, está aí de novo em notícia, pelas piores razões.
No passado dia 12 cumpri com uma obrigação cívica, já que não me contento em votar de 4 em 4. Posso agora continuar, de cabeça erguida e reforçada moral, a levantar em qualquer lado a voz da minha oposição ao sentido da actual governação deste país.
Estive em Lisboa e, com algum malabarismo omnipresencial, consegui estar em duas manifestações: na manif convocada pela plataforma sindical dos professores que do Campo Pequeno seguiram para o cerco à 5 de Outubro ameaçando voltar à luta que revirou o país em 2008/2009, e também entre os enrascados que desfilaram pela Avenida da Liberdade (releve-se o sublinhado), numa demonstração cívica apartidária sem paralelo desde os anos quentes de Abril. Espero que o governo e a classe política deste país tirem ilações do que à sua volta vai acontecendo...
Ainda, e a propósito do "caso" Homens da Luta, aqui fica também Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo que sabem do que falam quando, e assim penso, aqui falam de festivais e da arte de "falar sem dizer nada".
Em tantos anos de Festival da Canção, pós 25 de Abril, nunca tal se tinha visto: vencer a irreverência. Antes sim, quando Simone com Desfolhada ou Fernando Tordo com a Tourada, abanaram consciências.
Agora parece que a luta voltou ao palco, com a despretensiosa "Luta é Alegria" e o apelo de Jel à mobilização para o dia 12 de Março. Será um sinal dos tempos ou dos ventos sueste que sopram de África?
Ficamos agora curiosos de os ver em pleno coração desta Europa decadente, em terras de Merkel, cantar: